Abstract
Uma das vozes mais representativas da produção literária em português do século XX, Carlos de Oliveira, ilustra em um dos seus sonetos a luminosa relevância da eleição de um título de poema1. Em contexto de reescrita para Poesias (1962), estabelece um diálogo direto com um soneto de Luís de Camões (1525?-1580), propondo uma série lírica em três cadências que integrara em Terra de harmonia (1950: 24). Em primeiro lugar, “Soneto de Camões”, com o incipit, “Que me quereis, perpétuas saudades?”, que oferece título ao conjunto, em segundo lugar, “Imité de Camoëns”, que reproduz o soneto de Les yeux d’Elsa (1942) em que Louis Aragon, de algum modo, se apropria do poema renascentista e, finalmente, em terceira posição, “Imitado de Aragon”, faculta-nos Carlos de Oliveira nova reinterpretação, atualizando-nos o poema através de nova impressionabilidade (Oliveira 1978, I: 124–126).