Abstract
A fotografia incorporou historicamente não apenas aspectos que dizem respeito à própria auto-referência que a permitiu se situar como um fenômeno artístico (Benjamin 2000), mas ela ainda é capaz de iluminar questões da poética a partir de alguns exemplos. Um destes exemplos é a imagem do fotógrafo italiano Luigi Ghirri feita em Roma em 1978 (imagem 1). A imagem apresenta um exemplar do jornal Corriere della Sera jogado no chão da rua. No título menor no alto da página lê-se “una disputa su percezione e realta”, isto é, uma disputa entre a percepção e a realidade. No entanto, o que chama mais a atenção na imagem é a frase com um referente para a própria fotografia: “Come pensare per immagini” o que nos leva a um paradoxo não muito distante daquele inventado por René Magritte em 1927: Ceci n’est pas une pipe, onde apreendemos um sentido distinto da imagem pintada de um cachimbo: no âmbito da representação, a imagem nos transmite uma informação e a frase, o oposto. Na frase contida no jornal fotografado por Ghirri, encontramos algo distinto. O fotógrafo nos convida a ler e a apreender o sentido da frase para entendermos a indicação da imagem feita por ele: como pensar por imagens.