Abstract
A identidade literária em Portugal está normalmente agregada a Camões. É um facto que, já no séc. XVII, a épica camoniana beneficiava de algum êxito em âmbito ibérico e europeu e é também verdade que nos sécs. XVII e XVIII, Camões se tornara símbolo para a Restauração (1640) e ilustração de alguma respeitabilidade civilizacional.
No entanto, foi o imaginário nacional, a nação histórico-linguística e a ‘homerização’ do poeta que, no séc. XIX, constituirão o alicerce e o arquivo do reconhecimento para uma produção literária escrita em português, digna de ser memorizada e engrandecida. Este ambiente exaltado, ao glorificar origens míticas, ao tecer predestinação divina, forja a ‘lusitanidade’ e reconstitui uma história e uma história literária, sem espaço para considerações metodológicas. É, contudo, um acaso que favorecerá a introdução do método filológico em Portugal com as primeiras análises científicas do texto literário português, sobretudo com Carolina Michaëlis. Circunscrevendo-me a algumas vozes, procurarei ilustrar a vitalidade do(s) discurso(s) sobre a história literária portuguesa (do português?) e a construção de uma identidade.