Abstract
O título deste posfácio busca combinar duas sen-sibilidades, a de Clarice Lispector e a de Georges Didi-Huberman, que ocorre a partir do roman-ce A paixão segundo G.H. O gesto de acrescentar, portanto, a letra D seguida de um hífen torna-se uma operação crítica que se aproxima da leitura das Crônicas de Clarice Lispector feita por Didi-Huberman, que, por sua vez, identifica na “ver-ticalidade do estrangeiro”, de Pierre Fédida, uma ruptura de plano vinda da própria palavra e que ecoa nos “movimentos da vertical” das crônicas em questão. Tal leitura suscita questões ampla-mente levantadas por Didi-Huberman, sendo brevemente enumeradas: o “eu”, “não-eu” e uma relação da escrita que ocorre a partir do fora, da-quilo que ele chamará de “hors-je”; as suas leitu-ras do “sintoma” ao longo das mais diversas obras, sobretudo em A imagem sobrevivente, de 2002; o caráter de sublevação das emoções, seus levantes, e das redes de abertura das emoções, isto é, o fato de que uma emoção nunca existe isolada.
A vertical das emoções teve como ponto de partida uma recensão da edição francesa que reúne todas as crônicas de Lispector, publicada em 2019 pela editora Des Femmes – Antoinette Fouque. A edição original foi publicada no Brasil em 2018, pela Rocco, com organização e posfácio de Pedro Karp Vasquez, muito embo-ra A descoberta do mundo tenha sido publicada em meados dos anos 1980. A partir desse fato, Didi-Huberman foi convidado para uma con-ferência no Departamento de Romanística da Universidade de Zurique, a partir da cátedra de estudos brasileiros, mais precisamente no contexto de um projeto com o qual autores brasileiros são lidos fora dos quadros da literatura nacional.